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Depressão à Luz da Bíblia



Certa vez, li uma frase do escritor Millôr Fernandes que dizia “a depressão é uma coisa que dá em quem vai muito depressa”. Nunca me esqueci e, ao longo da minha vida profissional, nas conversas com meus clientes no consultório, percebo o quanto a correria e os excessos nos levam ao tão falado mal do século: a depressão. É muito comum que, ainda hoje, ela não seja vista como uma doença. Um dos motivos dessa má interpretação é que, muitas vezes, o problema é confundido com tristeza ou preocupações passageiras. Mas, a depressão não é fraqueza, não é frescura, não é falta do que fazer, não é falta de Deus. A depressão é um distúrbio que gera uma tristeza profunda, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que podem acabar em pensamentos suicidas. Por isso, a depressão precisa de um acompanhamento médico e psicológico, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado. Aproximadamente 350 milhões de pessoas são atingidas por diferentes tipos de depressão em todo o mundo.


Creio que quase todos já nos deparamos com alguém próximo de nós que tenha sido diagnosticado ou que, pelo menos, tenha apresentado sintomas deste transtorno. Ainda não se sabe quais são as origens da depressão, uma doença complexa que tem consequências físicas e emocionais. Geralmente, a pessoa pode apresentar os seguintes sintomas: ●  apatia; ●  falta de motivação; ●  medos que antes não existiam; ●  dificuldade de concentração; ●  perda ou aumento de apetite; ●  alto grau de pessimismo; ●  indecisão; ●  insegurança; ●  insônia; ●  falta de vontade em fazer atividades antes prazerosas; ●  sensação de vazio; ●  irritabilidade; ●  raciocínio mais lento; ●  esquecimento; ●  ansiedade; ●  angústia. Estes são alguns fatores que podem aumentar as chances de desenvolver a depressão: conflitos familiares, com amigos ou no trabalho, abuso físico, morte ou perdas, predisposição genética, doenças graves eventos negativos ou outros problemas pessoais.


Quando apresentamos este quadro, devemos buscar ajuda profissional médica e psicológica. Mas, refletindo à luz da Bíblia, será que a depressão existe? Para refletirmos sobre isso vieram à minha memória duas histórias:


A HISTÓRIA DE ANA

Ana é encontrada pelo sacerdote Eli na porta da tenda sagrada chorando, ao ponto de sua voz não sair (“Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente” - 1 Samuel 1:10). Imagino como ela estava fragilizada, pois sofria a pressão de não ter filhos e a outra esposa de seu marido, como permitido na época, provocava-lhe. Ela também não era compreendida pelo seu esposo mesmo que ele tentasse agradá-la de todas as maneiras (...”Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?”- 1 Samuel 1:8). Eli supôs que ela estava alcoolizada ("Porquanto Ana no seu coração falava; só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada.” - 1 Samuel 1:13).


A HISTÓRIA DE  ELIAS


Elias foi um profeta conhecido por ter realizado grandes feitos em nome do Senhor. Por meio de suas profecias, desceu fogo do céu, voltou a chover, tornou a viver o filho de uma viúva. Porém, após sair vitorioso no Monte Carmelo sobre os profetas de Baal ("O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos, e disseram: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!" - 1 Reis 18:39), foi ameaçado de morte pela rainha Jezabel. Elias ficou desesperado e fugiu de Israel, atravessou Judá e, desanimado, foi para Berseba, onde caiu numa grande depressão ("Ele, porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais." 1 Reis 19:4). Ele se sentiu fracassado, sozinho, ameaçado e amedrontado.


Porém, para nossa alegria e esperança, Deus não nos desampara. Ele nos possibilita a cura.


Ambos tinham uma vida de oração ativa, mesmo tristes confiavam em Deus e se relacionavam com Ele, criando assim intimidade com o Pai para falar-lhe todas as suas preocupações.


A RECUPERAÇÃO DE ANA


Ao ouvir as palavras de Ana, Eli liberou palavras de bênçãos sobre a vida dela ("...Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste." - 1 Samuel 1:17) e Ana mudou, em seu rosto já havia alegria ("E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste." - 1 Samuel 1:18). Depois de um tempo, Ana gerou a Samuel e ele não era apenas um filho, ele se tornou profeta, juiz e sacerdote de Israel (1 Samuel 1).


A RESTAURAÇÃO DE ELIAS

Deus trata Elias de uma maneira especial. Primeiro cuida enviando um anjo ("E deitou-se, e dormiu debaixo do zimbro; e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te, come." - 1 Reis 19:5). Depois, o Pai manda Elias para um lugar de revelação e se manifesta não na ventania, no terremoto e no fogo, mas em um ciclo tranquilo e suave ("E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada." 1 Reis 19:12). Assim, Elias tem sua missão restaurada, sua vocação renovada e Deus ainda traz para seu ministério um amigo, Eliseu (1 Reis 19).


Nestes dois exemplos bíblicos, vemos Deus cuidando e enviando pessoas também para nos amparar. Apesar das dificuldades, lutas, desânimo, e, às vezes, desespero, voltamos restaurados e com uma nova visão daquilo que o Senhor quer fazer por meio de nós. Quando ficamos deprimidos, precisamos de ajuda profissional, mas sobretudo de uma nova visão de Cristo. As vidas de Ana, mãe de Samuel, e do profeta Elias são inspiradoras e possuem lições preciosas para nossa própria vida. Não devemos desistir dos sonhos que glorificam a Deus e devemos esperar sempre a providência do Senhor!


Fabíola Porto

Psicologia Clínica


 "Deus não nos desampara. Ele nos possibilita a cura."

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